Coordenador: Leonardo Soares dos Santos
Descrição: A economia açucareira não marcou a paisagem social da cidade de Campos dos Goytcazes (e a região por ela influenciada) apenas com sua produção e poder político que disso derivava, mas ela foi responsável também por engendrar importantes marcos e instituições do cenário futebolístico do lugar. Além de ter sido muito importante para a sustentação dos dois principais clubes da cidade? Americano e Goitacás, por período significativo de suas respectivas histórias, a economia açucareira, por meio de suas usinas e usineiros, também contribui para o surgimento de uma série de agremiações futebolísticas na cidade. É certo que não foram poucos os times criados no Brasil oriundos de usinas açucareiras, temos os exemplos notáveis do União São João (São Paulo), União Barbarense (São Paulo), Central de Itaocara (Rio de Janeiro), Usina Ceará, Usina Catende (Pernambuco), Maravilhas (Pernambuco). Aristides Leo Pardo nota que o interesse de grandes empresários em patrocinar times de futebol não foi incomum no antigo estado do Rio de Janeiro: tivemos os casos do Bangu A.C., Santa Maria (Bom Jesus de Itabapoana), Madureira, Filó (Nova Friburgo), Central de Itaocara. Mas sem dúvida, a cidade de Campos ofereceria o maior número de exemplos; ela acabaria consensando um enorme número de times. E serão essas a merecerem maior atenção. Tratam-se de agremiações que mais do que o apoio dos donos de usinas, foram resultado do empenho dos seus trabalhadores em consolidar clubes e times, práticas associativas, que tinha o futebol como pano de fundo. Aristides Leo Pardo lista todos os clubes que, pelo menos uma vez, jogaram no campeonato campista organizado pela Liga, ou por entidade correspondente: Internacional , Aliança Foot Ball Club, Americano, Goytacaz, Campos Atlético Associação, América , Rio Branco, Fla-Flu, Paladino, XV de Novembro , Luso Brasileiro, Aliança do Queimado, Atlético, Itatiaia, Sapucaia, Cambaíba, São José, São João, Paraíso de Tocos, Leopoldina , Industrial, Municipal, Futurista Futebol Clube, Vesúvio e Lacerda Sobrinho. Ou seja, dos 25 clubes que disputaram o campeonato campista de futebol, 6 deles eram de usinas, isto é, mais de 1/5 dos times. A proporção de times operários, para além dos de usinas ? é maior se acrescentarmos as equipes do Industrial, Vesúvio e do Municipal, composto por funcionários da Fábrica de Tecidos, do Corpo de Bombeiros e do Mercado Municipal, respectivamente. E acrescentaríamos a essa relação os times do Progresso e do Brasil, da Usina Sapucaia, que em 1938 seriam fundidos, surgindo então o EC Sapucaia. O peso da economia açucareira era tão grande, que praticamente todos os clubes de usina foram criados no período de auge de sua produção econômica, entre 1930 e 1950. As exceções são o Sapucaia e São João, ambos de 1917. Esse projeto, portanto, visa fazer um levantamento das memórias dos antigos moradores da cidade que torceram ou jogaram nesses clubes. Queremos com base nesses relatos e lembranças tomar os times de usina como momentos da experiência da classe trabalhadora de Campos na sua formação ao longo da segunda metade do século XX.
Situação: Em andamento